FOTO LÉO CALDAS
01 de Fevereiro de 2011
Foto Léo Caldas
[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 122 | fevereiro 2011]
O sessentão Belo Xis mantém a inquietude do adolescente Antônio José de Santana. Ele é dos poucos veteranos do samba pernambucano que não arredam o pé de uma agremiação. Começou na então imponente Estudantes de São José, nos anos 1960, e, atualmente, é compositor e puxador da Gigantes do Samba. Sai na passarela como quem cumpre uma obrigação a um orixá, mas cuidou de sedimentar sua carreira de cantor e compositor no início dos anos 1970. Ele é o decano dos sambistas pernambucanos, circula pela velha e nova ala de cantores, compositores pernambucanos, paulistas e cariocas, com a desenvoltura com que canta o enredo na avenida Dantas Barreto, a passarela das escolas há quase 40 anos.
A abertura da então polêmica e, hoje, conturbada avenida, e a demolição da Igreja dos Martírios, um histórico conjunto arquitetônico, são tidas por Belo Xis como marco inicial da decadência das escolas de samba: “O Bairro de São José era onde o carnaval do Recife tinha mais animação, vivia um clima de samba, com Donzelos, Saberé, Almirante, e o símbolo era Badia, no Pátio do Terço”. Com a derrubada de ruas inteiras, casas seculares, para rasgar uma avenida que “modernizaria” o Centro, muitos sambistas foram obrigados a mudar de bairro. Os bons compositores afastaram-se das agremiações, à medida que elas foram perdendo poder de fogo, deixando de receber tratamento de estrelas da festa. Não chegaram ao fausto das escolas cariocas, mas recebiam tratamento vip. Gigantes já saiu com 4 mil sambistas. “O pessoal se interessava mais em compor, porque, até 1978, a Rozenblit lançava os discos com os enredos das escolas. Depois do fim da gravadora, os admiradores da escola têm que aprender o enredo na quadra, nos ensaios”, rememora.
Belo Xis conta com mais de três décadas como compositor e cantor de samba, cerca de 150 deles gravados; tem músicas com Bezerra da Silva, Leci Brandão, Djalma Pires, Sorriso Maroto, Marquinhos Satã; sua discografia foi feita quase toda por grandes gravadoras, RGE, Ariola, Continental, Sony, Band Discos.
Uma prova do quanto Belo Xis é bem-relacionado entre sambistas está nas participações especiais no disco em que celebra seus 30 anos de carreira – um dos nomes envolvidos é o do caruaruense, mas desde criança no Rio, Rildo Hora, produtor de nove entre cada 10 estrelas do samba, entre elas Neguinho da Beija-Flor, Martinho da Vila, e a Velha Guarda do Império Serrano: “O disco está quase pronto. Tem 16 faixas, apenas duas não são autorais; as outras fiz sozinho, ou com parceiros”, diz o loquaz e agitado sambista, que parece querer estar em todo lugar ao mesmo tempo, enquanto administra a Roda de Bamba 10. Tampouco se contenta em apenas abrir um show de outro sambista, sente necessidade de estar lá, participando. Foi assim, quando ajudou a produzir a vinda do mito Roberto Silva, para uma memorável noite no Clube das Pás, há três anos. À época, com 88 anos Silva desfiou com voz firme e forte clássicos como Normélia, Juracy e O escurinho, com Belo Xis no backing vocal, nem esperado, e muito menos ensaiado.
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