Curtas

Animage

Festival de animação de Pernambuco mostra por que este não é um gênero menor do cinema, com uma programação diversa entre os dias 24 deste mês e 3 do próximo, no São Luiz e Cinema do Museu

TEXTO Sofia Lucchesi

22 de Novembro de 2017

Indicado ao Oscar, 'Minha vida de abobrinha' é um dos seis longas da programação este ano

Indicado ao Oscar, 'Minha vida de abobrinha' é um dos seis longas da programação este ano

Imagem Frame do filme

Já é senso comum que o cinema pernambucano contemporâneo ascendeu a um status de relevância e prestígio na produção audiovisual nacional. Entre as obras constantemente lembradas como parte dessa trajetória, contudo, nenhuma delas é um filme animado. Mas, então, frente a esse cinema tão celebrado e ao aniversário de 100 anos da animação no Brasil, que lugar ocupa hoje a produção de animação em Pernambuco? Esta é uma das questões que podem ser levantadas durante oitava edição do Animage – Festival Internacional de Animação de Pernambuco, com início nesta sexta-feira (24/11), seguindo até o dia 3/12 na Caixa Cultural, Cinema São Luiz e Cinema do Museu (Fundaj Casa Forte), no Recife.

De 2010 até agora, segundo levantamento do livro História da animação em Pernambuco, de Marcos Buccini (leia AQUI a reportagem especial sobre animação no Brasil, e em Pernambuco, da Continente de outubro), foram realizadas cerca 160 animações no estado, o equivalente ao dobro de animações produzidas na década anterior. Porém, até agora, essa produção limita-se ao desenvolvimento de curtas-metragens. “Filmes como Dia estrelado (2011), de Nara Normande, e mais recentemente, O ex-mágico (2016), de Olímpio Costa e Maurício Nunes, se destacaram em festivais no Brasil e no mundo. Em relação a longas-metragens, Pernambuco ainda não tem um projeto de produção realmente iniciado, e esse seria o passo seguinte. Ainda há necessidade de se formar mais mão de obra capacitada no estado, e acredito que o Animage contribui bastante para isso por meio das oficinas, oferecidas tanto para profissionais quanto para crianças e iniciantes”, pontua o cineasta e jornalista Júlio Cavani, curador do festival. “Até agora, nenhum longa-metragem de animação foi sequer inscrito nos editais de financiamento do estado”, reforça.  

Alguns desafios para o estabelecimento e reconhecimento do cinema de animação são enfrentados não apenas em Pernambuco ou no restante do Brasil, mas em todo o mundo – de forma mais ou menos atenuada de acordo com cada país. Há um conservadorismo do próprio mercado cinematográfico em geral, já que a maioria das produções selecionadas em festivais são live-action (filmes com pessoas “reais”). Mais raro ainda é ver uma animação ganhar o prêmio de melhor filme que não seja em sua própria categoria. Existem também outros estigmas impostos pelo circuito ao cinema de animação, como a relação com o público infantil (como algo “menor”) ou, ainda, associada apenas ao humor ou ao cartum.

Assista ao trailer de um dos longas da programação: 



“O Animage tem essa preocupação em mostrar que a animação pode ser realista, abstrata, infantil, adulta… Valorizamos muito filmes que entendem a animação como um território completamente livre, de formas de expressão das mais variadas”, enfatiza Cavani. “Quase todos os filmes de animação que entram em cartaz no circuito de cinemas são filmes infantis. Mesmo quando esses filmes de animação adultos conseguem uma distribuição no Brasil, nem sempre eles chegam ao público – a grande maioria nem sequer é distribuída no Brasil.”

Um dos seis longas-metragens que integram a programação do Animage, Minha vida de abobrinha – que participou da Quinzena dos Realizadores, do Festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de melhor filme de animação – nem entrou em cartaz no Brasil. Além dos longas, foram selecionados 88 curtas-metragens de 28 países (veja toda a programação AQUI).

No contexto político atual, no qual exposições e ações artísticas que envolvem nudez têm sido constantemente censuradas, o Animage mantém ainda sua Mostra Erótica, realizada todos os anos. Dialogando com os acontecimentos recentes, um dos filmes presentes na mostra é o curta italiano Peep show, de Rino Stefabo Tagliaferro, além de Vênus: Filó, a fadinha lésbica, do mineiro Sávio Leite. O curta consiste em mais de 100 pinturas históricas com nudez – a exemplo de pinturas clássicas, renascentistas e barrocas – animadas no computador e acompanhadas por uma trilha sonora que nos faz viajar pela história das artes do século XVI ao início do XX. 

SOFIA LUCCHESI, estagiária da Continente, estudante de Jornalismo da Unicap e fotógrafa.

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