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Música ao redor do sol

Festival DoSol, do mar e de Natal (RN), comemora 15 anos à beira-mar e ao som de nomes como Edgar, Metá Metá, Céu e Baleia

TEXTO ERIKA MUNIZ, DE NATAL*

26 de Novembro de 2018

Céu fechou os shows da primeira noite da 15ª edição do DoSol

Céu fechou os shows da primeira noite da 15ª edição do DoSol

Foto Rafael Passos/Divulgação

Na cidade do sol, ele acabara de se pôr. A Via Costeira, forte candidata à mais bela vista de uma Natal que não cansa de exibir suas belezas, é onde se localiza o Beach Club, que recebeu, no último fim de semana, o festival DoSol. Enquanto alguns dividiam as calçadas com os vendedores de bebidas para entrar no primeiro dia do evento, alguém comentava na fila: “Tem muita coisa para ver hoje. Saque a programação”.

Dentro do espaço, do lado direito, estava o Palco Natura. Ali, após a banda potiguar SouRebel dar início à programação, a carioca Baleia começava sua apresentação. Sofia Vaz, a vocalista, estava em fervorosa desde o início. Decerto, a interpretação e o figurino off-white de franjas, ou fitas, não sei ao certo, hipnotizavam os que estavam mais distantes e os que cantavam juntos com ela, bem perto do palco.

No Red Bull Music, o palco mais central e próximo ao mar – com quem dividia a atenção do público –, as MCs Camila Rocha e Kalyne Lima, do Sinta Liga a Crew (PB), deram o recado de que vai ter mina nordestina fazendo rap, sim! Em meio a tantas atrações na primeira noite do festival (sábado, 24/11), contudo, uma esteve onipresente: a lua cheia. Na beira da praia, quando a iluminação dos palcos baixava, ela acendia e prateava o público.


Foto: Rafael Passos/Divulgação

Como o Coquetel Molotov e o Mimo, o DoSol comemora 15 anos em 2018 e figura entre os festivais de música independente mais importantes do Nordeste. Ao longo de suas edições, tem tido um papel relevante de formação do público de Natal, seja por trazer atrações de fora, ou por ser o espaço para que as bandas locais se apresentem. Grupos já bastante conhecidos pelo país, como o Far From Alaska e o Plutão Já foi Planeta – inclusive, uma das atrações desse ano –, fizeram parte de diversas edições do evento, que por muitos anos, acontecia nas imediações da Ribeira, centro histórico da cidade.

Desde o ano passado, o DoSol vem acontecendo na Via Costeira. Este era um dos sonhos dos idealizadores, que agrada grande parte do público cativo, mas também deixa alguns um pouco saudosistas. No entanto, o Centro Cultural do DoSol permanece ocupando o bairro histórico e levando atrações ao longo do ano. Segundo Anderson Foca, que ao lado de Ana Morena, organiza o evento, com o crescimento do número de ingressos atualmente, a Ribeira não comportaria mais o tamanho do festival. “Vir para cá também foi dar um conforto para o público, para os artistas e nos encontrar com a praia, que é a nossa dinâmica na cidade mesmo”, afirma Foca em entrevista à Continente.

Na estrutura do evento, a disposição dos palcos é bastante interessante porque num ambiente totalmente aberto, permite que os sons de cada palco não desarmonizem. Enquanto um show próximo está acontecendo, o outro palco está na montagem, e vice-versa. Isso, e a mescla de ritmos musicais das mais de 20 atrações do dia, contribui para o trânsito do público por todos os espaços do Beach Club. Ao longo das extremidades do local, o saudoso produtor Carlos Miranda ilustrou o evento através de lambe-lambes e dos folders. Ele foi um dos que, desde o início, fortaleceu e acreditou no festival natalense.


O rapper Edgar. Foto: Rafael Passos/Divulgação

No backstage do Arena Oi, minutos antes de subir ao palco para fazer uma dos maiores apresentações da noite, o rapper Edgar (SP) vestia seu figurino em alusão aos orixás. Mascarado com dourado e madeira, luvas cor-de-rosa cobriam seus braços e um vestido de rendas não deixava nada de seu corpo aparecer. No cenário de luzes neon, tocou na companhia dos músicos Pupillo – responsável pela produção musical de seu recente álbum Ultrassom – e David Bovée. Os dois, aliás, retornariam ao palco mais tarde para a apresentação da cantora Céu. Imediatamente percebi a semelhança entre ela e a máscara usada por Edgar, sobretudo imaginando que ele mesmo confecciona suas roupas. “Sabe como é que foi? Era uma renda que eu tinha pensado para esse show. Pensado ser uma parada bem África, voltado também para rendas e tricô com um trabalho manual mesmo. Só que no show que eu fiz no festival Meca, eu rasguei quando ia tirar. Daí, quando chegou aqui em Natal, como já era no dia seguinte, eu fiquei procurando. Achei um lustre no chão da praia. Sou eu que faço a maioria das roupas”, contou em entrevista à Continente. Para ele, o figurino é importante porque fortalece a imaginação das pessoas, que “escutam com os olhos também”.

Sua música Carro de boy, de batida funk, conta uma história triste que aconteceu em Guarulhos, mas que é realidade em diversas cidades do país: um playboy com um carro de marca que atropela uma criança e fica por isso mesmo. Numa espécie de expurgo, através da dança, ele atentou ao fato da históriaque havia acontecido em sua “quebrada”. Uma espécie de “dança da reflexão”, como ele mesmo sugere durante a apresentação.


Metá Metá. Foto: Rafael Passos/Divulgação

Ao lado de Céu, o Metá Metá era uma das atrações mais aguardadas da noite. O trio Thiago França, Kiko Dinucci e Juçara Marçal reverenciou diversas vezes a rainha Iemanjá, sobretudo com a canção Oyá. Acostumados a tocar em diversos festivais nacionais e internacionais, no DoSol estavam próximo ao mar, e se a sonoridade do grupo traz muita referência às matrizes culturais africanas, parece que a força das canções se potencializaram. Dona de interpretações vigorosas, Juçara estava totalmente presente no centro do palco, foi só energia em Obá Iná.

Sob luzes em tons azulados, Céu fechou o line-up do palco Red Bul Music na primeira noite. No show, que mesclou canções de seu aclamado álbum Tropix, de Varanda Suspensa a sucessos como Malemolência, Cangote e outras, fez uma poderosa versão dedicada à Tulipa Ruiz de Enjoy the silence, do Depeche Mode. Já próximo às três da manhã, DJ PatrickTor4 comandou as pick-ups e segurou grande parte do público até o sol retomar seu posto, fazendo jus ao nome do festival.

ERIKA MUNIZ é bacharel em Letras, estudante de Jornalismo e ligada no que anda rolando nos festivais e na música brasileira.

*A repórter viajou por conta própria e trouxe este texto.

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