Arquivo

Acervo: Memória virtual da dança pernambucana

RecorDança disponibiliza online informações relativas ao setor – fotos, vídeos, programas de espetáculos, bios de coreógrafos – de 1970 a 2000

TEXTO Olivia de Souza

01 de Dezembro de 2014

Este ano, o grupo realizou a mostra 'RecorDança 10 anos: construir, sentir e olhar a dança'

Este ano, o grupo realizou a mostra 'RecorDança 10 anos: construir, sentir e olhar a dança'

Foto Ju Brainer/Divulgação

Realizado desde 2003 pela Associação Reviva, com coordenação da dançarina, professora e pesquisadora Valéria Vicente, o Acervo RecorDança é uma ação de pesquisa, documentação e difusão da história da dança pernambucana que reúne, em formato digital, registros fotográficos, entrevistas em vídeo e áudio, programas e cartazes de espetáculos, e documentos que se referem à prática da dança, além de disponibilizar informações sobre os artistas e grupos atuantes no estado. O projeto se baseia no discurso dos próprios artistas, que, através de entrevistas, vão indicando os rumos a serem tomados.

A primeira fase do projeto procurou mapear a produção artística da dança realizada no Recife de 1970 a 2000. Esse estudo se baseou em 25 entrevistas com professores, coreógrafos e diretores de grupos que atuaram na cidade durante o período. Nelas, foram abordados temas como formação, produção, criação e profissionalização artística. Entre os entrevistados, estão profissionais como Flávia Barros, Carol Lemos, Maria Eduarda Gusmão, Isabel Sehbe, Alexandre Macedo, Raimundo Branco, Cláudia São Bento, Dayse Caraciollo, Ubiracy Ferreira, André Madureira, Mônica Lira e Christianne Galdino.

O material digitalizado foi resgatado no mais recente projeto do Acervo, o Histórias ao Pé do Ouvido, que ofereceu ao público, através de podcasts (arquivos digitais de áudio), oito programas divididos em eixos temáticos, que abordam questões como temporalidade, formação, profissionalização e políticas públicas. A equipe, liderada pelos pesquisadores e bailarinos Marcelo Sena e Elis Costa, junto a Alice Moreira e Ju Brainer, vem, desde o início do ano, se detendo sobre o extenso material de áudio (cerca de 25 horas de entrevista) para tentar compreender a trajetória e o contexto da dança realizada em Pernambuco. A primeira temporada do programa resgatou as primeiras entrevistas do projeto, gravadas em 2003 e 2004, e está disponível online, na página do RecorDança.

Segundo Elis Costa, que participa do projeto há três anos, a divisão dos assuntos foi feita de forma orgânica, através da própria escuta do material: “Inicialmente, tínhamos três eixos para nos nortear: formação, criação e profissionalização. A divisão dos assuntos abordados nos programas foi feita através de uma proposta de Marcelo Sena, que orientou a pesquisa. Ele sugeriu que escutássemos todas as entrevistas e, a partir daí, tentássemos identificar a demanda do próprio material, que também era a dos próprios artistas. Muitos falavam sobre questões de gênero, outros sobre formação, profissionalização. Chegamos, enfim, a oito eixos temáticos: temporalidades, múltiplas linguagens, mobilizações, gêneros, formação, êxodos, políticas públicas e profissionalização”, afirmou.

Segundo Elis, não havia a intenção inicial de disponibilizar esse material ao público. “Essas entrevistas foram feitas com o propósito de definir os nortes do projeto. Não tínhamos intenção de publicá-las. Como foi um material colhido em 2003 e 2004, a tecnologia de captação ainda era um pouco precária, então, alguns áudios não estão muito bons, embora nada comprometa a audição.”

BANCO DE DADOS
Depois de uma primeira fase de captação e escuta, o Acervo RecorDança identificou, em 2005, a possibilidade de expansão de suas ações. Coordenada por Valéria Vicente, Liana Gesteira e Roberta Ramos, a equipe estabeleceu a demanda pela construção de um banco de dados na internet. Além disso, realizou estudos sobre a história da dança em Salvador e Fortaleza para firmar parcerias com instituições desses locais, a fim de ampliar o acervo.

Essa mudança do suporte físico para o virtual lançou a segunda etapa do projeto: a criação de um sistema de busca gratuito na internet. O RecorDança On Line, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, disponibilizou o material coletado na primeira fase: fotos, vídeos e programas de espetáculos, informações sobre coreógrafos, professores, dançarinos, espetáculos e grupos, entre outros dados. No ano seguinte, o acervo – que continha informações da década de 1970 a 2000 – foi ampliado até o período de 2008. Essa etapa foi finalizada em 2009, com a inserção do material atualizado na internet. O período também marcou a parceria com o Acervo Mariposa, videoteca pública especializada em dança.

Em comemoração aos seus 10 anos, o Acervo RecorDança realizou, em agosto deste ano, no Centro Cultural Correios, a exposição RecorDança 10 anos: construir, sentir e olhar a dança. Dividida em três ambientes-conceito (Bastidores, Palco e Plateia), a mostra teve como finalidade oferecer ao público um mergulho na história e nas práticas da dança pernambucana.

Durante essa última década, a dança cênica pernambucana obteve projeção nacional por sua diversidade, produção criativa e articulação política, e trabalhos como o do RecorDança são um importante registro dessa evolução. Para a pesquisadora Elis Costa, um dos aspectos mais fortes da dança no estado é a sua resistência. “Temos grandes conquistas, originadas de demandas da sociedade civil, como a criação do curso de Dança na UFPE, por exemplo. Como em qualquer área, há perdas e ganhos, mas independentemente disso, o mais importante é ressaltar a resistência da dança, sua sobrevivência política, artística. Acho que esse é o maior aspecto a ser apontado, o fato de que existe uma área de conhecimento legitimada, entendida, reconhecida, e respeitada”, declarou. 

OLIVIA DE SOUZA, editora da Continente Online.

Publicidade

veja também

Pesquisa: Teatro para a infância

“Não tive tempo de ser cinéfilo”

“Mesmo um filme que não fale diretamente de política, é político”