Artigo

O horror também como crítica à sociedade

Gênero, que encontra várias formas de realização, tem leitura atualizada

TEXTO FILIPE FALCÃO

03 de Julho de 2019

'Nós' (2019), do diretor norteamericano Jordan Peele, dividiu o público sobre a pertinência da sua classificação como terror

'Nós' (2019), do diretor norteamericano Jordan Peele, dividiu o público sobre a pertinência da sua classificação como terror

Foto reprodução

[conteúdo na íntegra | ed. 223 | julho de 2019]

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Quando o filme de terror Nós (2019), do diretor norte-americano Jordan Peele, ganhou suas primeiras exibições no final de março deste ano, parte da crítica e dos fãs do gênero começou a pontuar que não se tratava de uma produção de terror. O questionamento sobre Nós ser ou não uma obra de terror se deu pelo roteiro escrito pelo próprio Peele propor debates por meio de alegorias existentes na trama sobre questões sociais. No entanto, basta assistir ao filme e perceber que ele possui todos os principais arquétipos comuns ao gênero – vilões capazes de provocar medo, cenários soturnos, casas isoladas, violência e até óbvios e desnecessários jumpscares. Ainda assim, muitas pessoas se negavam a classificá-lo como um produto de terror.

A polêmica foi tão grande, que o próprio diretor postou em sua conta no Twitter, logo após o lançamento do filme, que, sim, Nós é uma obra de terror. O debate envolvendo o longa não é isolado. Nos últimos anos, ótimas películas foram tratadas como gêneros diferentes do terror. Exemplos não faltam para essa lista, como os excelentes Boa-noite, mamãe (2014), O babadock (2014), A bruxa (2015), Demônio de Neon (2016), Ao cair da noite (2017), Hereditário (2018), apenas para citar os mais conhecidos. Tratam-se de obras que se distanciam de sustos fáceis, de cenas apelativas e de representações explícitas de monstros, e que, ao mesmo tempo, abordam questões mais profundas por meio de metáforas e alegorias existentes nas tramas.

Ao cair da noite (2017) foi classificado como pós-horror por crítico do Guardian. Foto: Reprodução

Um olhar rápido na história do cinema nos permite encontrar diversas fases, subgêneros, ciclos e categorias de filmes de terror. Dos monstros da Universal na década de 1930, passando por elegantes produções inglesas na década de 1950, vilões mascarados matando das formas violentas e criativas adolescentes na década de 1980 até fantasmas de meninas asiáticas com longos cabelos negros no começo do século XXI.

É impossível resumir a história do cinema de terror apenas no parágrafo acima. As minúcias desse percurso estão em muitos livros que contam a história do gênero no cinema. Para uma leitura completa, é possível destacar publicações de pesquisadores como Carlos Clarens, Peter Hutchings, Colin Odell, Michelle Le Blanc, Kim Newman, Jonathan Penner, Steven Jay Schneider, entre outros. O que esses autores possuem em comum é o fato de reconhecerem como as produções de terror conseguem ser extremamente antagônicas em seus próprios limites dentro das fórmulas existentes do terror.

Mas, afinal, o que é um filme de terror? Um dos maiores pesquisadores do terror no cinema, Noel Carroll, define o gênero como um tipo de produção que precisa ter um monstro dentro da trama. E que este não precisa ser feio e repulsivo. Uma pessoa pode ser bonita e ter uma mente monstruosa, como Norman Bates, um dos assassinos mais famosos da sétima arte. No entanto, um monstro pode estar presente em películas de aventura ou até em títulos infantis. O que faz um filme com monstro ser de terror é a possibilidade de quem o assiste vir a sentir medo, nojo, repulsa, além de outras sensações comuns a obras de terror e exploradas pelos seus roteiros.

É claro que não se trata apenas da figura do monstro. Existem elementos narrativos, de direção de arte, fotografia e até de montagem capazes de trabalhar com o medo ou o susto em produções de terror. Mas eles são diferentes. O susto é provocado por um aumento brusco no som ou um corte específico da montagem para destacar determinada ação. Já o medo é uma construção mais lenta, que se desenvolve no andamento da história. Os melhores filmes são os que provocam medo. De forma comparativa, um filme com sustos é como uma ida a uma lanchonete, enquanto a produção que provoca medo se compara a um banquete em um restaurante elegante e com pratos deliciosos.

“Um dos principais parâmetros do cinema de terror está relacionado à construção dos personagens. Quanto mais humanos forem seus personagens, quanto mais complexos, verticais e profundos eles forem construídos, maior a chance do filme angariar a aproximação e a simpatia de seu público – mesmo que esse herói (ou anti-herói) seja um medonho serial killer que usa máscaras de pele humana. Ainda assim, seu público poderá torcer por ele”, explica o crítico de cinema Luiz Joaquim.

O mencionado filme de Jordan Peele acompanha uma família composta pela mãe Adelaide (interpretada brilhantemente por Lupita Nyong’o), o pai Gabe (Winston Duke), a filha adolescente Zora (Shahadi Wright Joseph) e o filho caçula (Evan Alex) em uma viagem de fim de semana para uma casa situada em um lugar isolado. Após um dia na praia, a família se prepara para dormir quando, de repente, percebe que existem quatro pessoas – dois adultos, uma adolescente e um menino – parados na porta da casa deles. Após a inevitável invasão, a família de protagonista percebe que os invasores são literalmente iguais a eles.

A líder da família invasora, também interpretada por Lupita, explica calmamente para Adelaide que eles, os duplos, também são feitos de carne, ossos e almas, mas, diferentemente da família “original”, não tiveram direito a nada. Esses duplos são esquecidos pela sociedade, invisíveis e sobrevivem apenas com restos. Ao ser questionada por Adelaide sobre quem são, a invasora sorri e afirma com orgulho que eles, os duplos, são norte-americanos.

Sempre um tema muito delicado e presente na história norte-americana, o racismo parece cada vez mais vivo no país. Não por acaso, Jordan Peele é negro e a família de protagonistas é formada apenas por atores negros. Aqui, as falas da personagem invasora são bastante claras ao questionar a razão dos duplos não possuírem nada e debater o que a sociedade faz diante desses problemas. A resposta vem por meio do silêncio em um país no qual a questão da divisão de riquezas e do surgimento de políticas cada vez mais excludentes para os mais necessitados cria muros entre as pessoas. O título original do filme, Us, pode ser uma mensagem direta ao poder instituído no país.

O cinema sempre soube tirar proveito de elementos políticos e sociais para criar suas alegorias em forma de filmes. Algumas são mais diretas e claras, enquanto outras possuem mais camadas. Em um país no qual Spike Lee critica a política excludente de Donald Trump em um filme como Infiltrados na Klan (2019), por qual motivo o cinema de terror deve ficar de fora do debate? Nesse caso, o tema em questão parece funcionar como mensagem para diversos outros países, incluindo o Brasil.

No entanto, não basta trazer elementos que permitam uma leitura alegórica sobre determinado assunto. O filme precisa funcionar como produção de terror. “Ao analisar o filme Nós, sem a perspectiva simbólica e a crítica social, como se fôssemos avaliar os zumbis de George Romero sem o contexto, pode-se dizer que ele funciona como um produto de gênero. Existem ali todos os elementos que compõem o estilo, como a presença do desconhecido, a sensação de insegurança e a atmosfera perturbadora”, explica Marcelo Milici, editor do portal Boca do Inferno, maior site nacional de críticas sobre filmes de terror.

Talvez o problema na aceitação de Nós como filme de terror seja perceber como todo o conteúdo comum ao gênero vem, nesse caso, também embalado em questões críticas capazes de gerar debates políticos, culturais e sociais. Algo que, em outros gêneros, já se tornou comum e até esperado. Que ironia perceber que, no caso do terror, parece existir ainda um certo preconceito, como se tais filmes não pudessem ser assustadores e simultaneamente trazer debates para a obra.

O pesquisador Douglas Kellner defende como grupos de filmes de terror dialogam com suas épocas e culturas de forma a permitir interpretações da sociedade em questão por meio de subtextos existentes nos roteiros. Para Kellner, por exemplo, filmes de terror dos anos 1950 que traziam monstros gigantes e invasões alienígenas representavam o medo diante da ameaça nuclear e soviética da Guerra Fria. Já os anos 1970 trouxeram títulos que abordavam o terror por meio da violência explícita, como O massacre da serra elétrica (1974), Quadrilha de sádicos (1977) e A vingança de Jennifer (1978). Estes serviram de metáfora para a Guerra do Vietnã e eventual corrida armamentista no país.

SUBGÊNEROS E CICLOS

A produção de qualquer gênero cinematográfico sempre foi composta por subgêneros e ciclos e o terror faz parte dessa definição. Subgêneros são formados por níveis narrativos, temáticos, iconográficos, estilísticos, condições de produção, além de uma série de possibilidades. O tipo de vilania, por exemplo, pode ser o elemento formador de um subgênero. No terror, vamos ter títulos de zumbis, casas assombradas, vampiros, assassinos psicopatas, possessões demoníacas entre diversos outros. Assim, o subgênero é visto como uma eleição de um conjunto mínimo de características de um gênero ao mesmo tempo em que acontece também uma rejeição de outras características.

Já o ciclo parece ter na data de produção o seu grande aliado para permitir uma identificação mais clara, respondendo por filmes feitos em um período de tempo limitado, com início e fim dessa data. Os ciclos ocorrem quando um filme de sucesso produz uma irrupção de imitações durante um tempo específico.

Filmes como Nós, O babadock, A bruxa e Hereditário fazem parte de um grupo, embora ainda não esteja claro se estamos falando de um subgênero ou de um ciclo. Tratam-se justamente de obras que vão além dos elementos comuns ao gênero, abordam outras temáticas e são capazes de provocar medo. Nesse recorte, o fã de filmes de terror já ouviu falar de uma expressão conhecida como pós-horror.

A definição foi dada por Steve Rose, crítico de cinema de The Guardian, no artigo How post-horror movies are taking over cinema, publicado em 6 de julho de 2017. O jornalista destaca uma série de títulos recentes que fugiriam do que ele chama de clichês das convenções mais tradicionais do gênero para contar histórias capazes de provocar medo de forma mais séria e profunda. Essas características são verdadeiras, mas não são inéditas para o cinema de terror.

Um dos exemplos considerados por Rose como carro-chefe do pós-horror, Ao cair da noite, mostra pessoas trancadas em uma casa isolada diante de uma ameaça externa desconhecida e, como consequência, os personagens logo entram em conflito, chegando a matar uns aos outros. De acordo com Rose, trata-se de um enredo revolucionário. No entanto, trata-se do mesmo tipo de situação vista em A noite dos mortos-vivos, de 1968. A única diferença é que, no filme de George Romero, são os zumbis que fazem com que o grupo fique preso na casa, enquanto em Ao cair da noite se trata de uma espécie de vírus de origem desconhecida.

É verdade que os exemplos da matéria de Rose não usam sustos fáceis ou cenas apelativas para provocar medo. E é justamente esse o problema de categorizá-los como pós-horror. Títulos como O bebê de Rosemary (1968), Carrie – A estranha (1976), ou O iluminado (1980) fogem dos sustos fáceis, evitam clichês das convenções, não possuem vilões tradicionais e trazem temas profundos. E, assim como Nós, tais títulos não são reconhecidos como de terror por parte do público e até da crítica.

“Pode existir, sim, uma expectativa limitada do público em relação aos filmes de terror devida a um certo preconceito relacionado ao fato de o gênero trabalhar com emoções e experiências muito primitivas e pouco racionalizadas”, afirma a pesquisadora de cinema e professora da Universidade Anhembi Morumbi, Laura Canepa. De acordo com ela, por tratarem de temas considerados pouco nobres, muitas pessoas assumem que esses filmes seriam incapazes de atingir a qualidade reflexiva de grandes obras artísticas. “Quando essas pessoas estão diante de filmes de terror realmente bons, podem tentar dar a esses filmes outras classificações”, completa Laura.

Esse tipo de negação, é claro, acaba incomodando os estudiosos e parte dos fãs de filmes de terror que nunca duvidaram da capacidade dessas obras mais “corporais” serem relevantes e por vezes sublimes. Afinal, qualquer pessoa reconhece com facilidade que há comédias românticas, filmes de guerra, dramas, ficções científicas com diferentes níveis de qualidade artística e reflexiva. Então, por que seria diferente com os filmes de terror?

Esse raciocínio reforça que a produção de terror atual não se encaixa apenas em uma única categoria. Assim como existem filmes mais sérios e repletos de camadas interpretativas, também é possível encontrar uma grande quantidade de obras formadas por roteiros fracos e clichês que servem apenas para entreter o público, de preferência em salas de cinema cujo som na potência mais alta vai provocar inúmeros sustos. Sobram exemplos para este tipo de filme como A freira, A noiva, Slender man, O chamado do medo, A casa do medo, Selfie para o inferno, Não olhe, A maldição da freira, entre outros. Esses são apenas filmes recentes, que estrearam em 2018.

Além disso, o cinema de terror costuma ser associado a produções de baixo orçamento, feitas pelas mentes entusiastas de jovens realizadores e estreladas por nomes desconhecidos da sétima arte. Parte desses títulos consegue ir além de um pequeno público e alcança sucesso mundial. Ainda hoje, produções de baixo orçamento não apenas existem, como são admiradas por fãs do gênero como um reconhecimento a um fazer fílmico marginal e autoral.

PRODUÇÃO GLOBAL

Apesar da hegemonia norte-americana, ao olharmos para grandes obras do gênero na história do cinema, é comum encontrarmos exemplos vindos de outros países, com destaque para França, Espanha, Alemanha, Canadá e Japão. A produção fora do circuito EUA parece ter aumentado ou conseguido uma divulgação maior nos últimos anos.

Basta um olhar atento aos títulos que se destacaram nos últimos anos para perceber esse crescimento. Os espanhóis A espinha do diabo (2001), REC (2007), O orfanato (2007) e Veronica (2017); o basco O ferreiro e o diabo (2017); os franceses Eles (2006), A invasora (2007), Mártires (2008) e Livide (2011); o sueco Deixe ela entrar (2008); o austríaco Boa-noite, mamãe (2014); o australiano O Babadock (2015), o alemão Antibodies (2005) são apenas alguns dos títulos de terror que chamaram a atenção de público e crítica nos últimos anos. Recentemente, os iranianos Garota sombria caminha pela noite (2014) e À sombra do medo (2017) colecionaram elogios.

Esse crescimento se deve a alguns fatores, como o barateamento de produção por meio da digitalização da imagem a partir de câmeras estilo HDSLR (câmeras fotográficas que também filmam) e a existência de plataformas de circulação via serviços de streaming.

Assistir a filmes de outros países representa possibilidades de conhecer o gênero. Fantasmas de burca, como as assombrações iranianas, podem ser muito assustadoras. Recentemente, a Netflix incluiu em sua grade filmes de terror da Indonésia. De comum, os títulos internacionais possuem a diversidade que é a marca do gênero.

“O processo de barateamento permite uma expansão geográfica de muitos países que, antes, ou não tinham nenhuma produção ou esta era pequena e restrita ao mercado de curtas. Agora, é possível lançar longas de qualidade. A Costa Rica e o Uruguai, por exemplo, são dois países que não possuíam tradição em produzir tramas de terror, mas que recentemente lançaram obras do gênero”, explica o pesquisador de cinema e professor da UFPE Rodrigo Carreiro. De acordo com ele, o grande benefício que o gênero de terror tem com essa expansão geográfica é a pluralidade a partir da qual o gênero passou a ser explorado.

E como fica a produção contemporânea de terror no Brasil nesse contexto? O que está sendo considerado como a new wave brasileira está chamando a atenção tanto da crítica interna como internacional, com títulos interessantes comandados por diretores e diretoras talentosos. Quando eu era vivo (2014), de Marco Dutra; As boas maneiras (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra; Mata negra (2018), de Rodrigo Aragão; Morto não fala (2018), de Dennison Ramalho são alguns títulos nacionais que estão enchendo de orgulho o gênero.

Pena que o cinema de terror brasileiro cresça em qualidade, mas ainda é muito modesto em número de salas de exibição ou mesmo de público. Um dos melhores filmes de terror da última década se chama O animal cordial (2018). Para a diretora do longa, Gabriela Amaral Almeida, o cinema de terror no Brasil passa por um ótimo momento no quesito produção e criatividade, mas ainda precisa ser descoberto pelo público geral.

O animal cordial (2018) se destaca na produção brasileira de terror da última década. Foto: Reprodução

“As produções norte-americanas representam o cinema hegemônico e isso molda o olhar do público diante das obras. Infelizmente, existe pouca referência de filmes de terror brasileiros para um circuito de exibição comercial e isso representa um aspecto negativo”, explica Gabriela. Para ela, é importante apoiar o cinema nacional, já que existe uma série de características das produções de terror dos EUA que naturalmente fazem parte do nosso imaginário. “O público possui como referência os filmes de terror norte-americanos, e quando este mesmo público se depara com um filme nacional, acaba não assistindo, por achar que não é bom ou vai com a expectativa que os cânones norte-americanos se repitam, e isto não acontece”, completa a cineasta. Para ela, a nossa produção, assim como a de qualquer país, possui identidade própria, apenas precisa ser descoberta.

Os títulos de terror brasileiros são bastante variados e possuem filmes que vão dos escatológicos e violentos até obras densas e reflexivas. Os vilões são os mais antagônicos, como assassinos psicopatas, zumbis, fantasmas, lobisomens e mesmo alguns personagens típicos da cultura local. Rodrigo Aragão dirigiu, em 2011, A noite do chupa-cabra. Já o cineasta pernambucano Adriano Portela está em fase de finalização do seu longa O Recife assombrado, com previsão de estreia para este ano.

Sejam fantasmas pernambucanos, assassinos psicopatas, mortos-vivos ou filmes com camadas interpretativas baseados em questões sociais, o fã do terror sabe que basta escolher o filme, apagar a luz e se deixar envolver pelas tramas. Assim, o cinema de gênero segue seu processo de evolução, seja refilmando obras do passado ou criando títulos, mas sempre provocando medo e diversão. Para Rob Taperd, produtor da franquia Evil Dead, a ideia de medo na sétima arte é semelhante à sensação de andar em um brinquedo considerado perigoso em um parque de diversões. Existe o medo, mas a adrenalina é o elemento motivador. E, nesse caso, quanto mais alta e com maior quantidade de loopings for a montanha-russa, mais divertida será a brincadeira. Ou podemos ficar em brinquedos mais simples como inofensivos carrosséis. A escolha é nossa.

Filipe Falcão, doutor em Comunicação, jornalista e professor universitário.

 

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