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“Continuo o mesmo viciado por música”

Um dos artistas-ícones da Bahia, Moraes Moreira avalia o mercado fonográfico hoje, no Brasil, critica o modelo do carnaval de sua terra e lembra o período pré e pós-Novos Baianos

TEXTO Marcelo Robalinho

01 de Maio de 2014

Moraes Moreira

Moraes Moreira

Foto Divulgação

Preste a completar 40 anos de carreira solo, em 2015, Antonio Carlos Moreira Pires, 66, esbanja vitalidade. Atualmente em fase de gravação, com o filho e guitarrista Davi Moraes, de CD com canções inéditas, duas das quais homenageando Pernambuco (Salve Pernambuco e Frevo capoeira), ele se mostra o mesmo apaixonado pela música, como quando criança, em Ituaçu, no interior da Bahia, ao acompanhar bandas pelas ruas da cidade.

Aproveitando o lançamento de caixa com os seus quatro primeiros álbuns solo, pela Discobertas, a Continente entrevistou Moraes Moreira. A conversa ocorreu no Restaurante La Fiorentina, onde tradicionalmente se reúnem artistas, jornalistas e intelectuais no Bairro do Leme, zona sul do Rio de Janeiro. O compositor fez uma retrospectiva da sua vida e carreira.

Único integrante da família a se interessar pela carreira musical, contou que aprendeu a tocar sanfona com um músico do interior, nas visitas que lhe fazia na prisão, tendo descoberto e se apaixonado depois pelo violão. Lembrou a formação dos Novos Baianos, a importância de João Gilberto para eles e o período difícil vivido, depois que resolveu se desligar do grupo para seguir carreira solo. Além disso, revelou seu amor por Pernambuco e a influência do frevo na sua carreira. “Ouvia as orquestras de frevo na Rádio Clube de Pernambuco, lá em Ituaçu, e ficava pirado”, conta.

Também conversamos sobre a independência dos artistas em relação às gravadoras, sua apresentação no último carnaval do Recife e as críticas ao atual modelo de festa adotado pela Bahia. “Não pensem que o carnaval é só aquilo que se vê na televisão. A Bahia é muito mais”, afirmou. Dizendo-se mais tranquilo na vida artística, Moraes assegurou ter disposição e vontade de continuar a carreira por muito tempo.

CONTINENTE Como foram seus primeiros contatos com a música?
MORAES MOREIRA Eu sou de uma cidade pequena do interior da Bahia, chamada Ituaçu, que fica na Chapada Diamantina. Vivi lá até os 17 anos. Tive uma infância de jogar futebol na praça, tomar banho de rio, totalmente ligada à natureza. Era uma cidade ingênua, tinha seresteiros, sanfoneiros, o rádio, o alto-falante na rua. Era nesse ambiente que a gente tomava contato com o mundo, principalmente o das emoções, através dos artistas da época, como Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Nelson Gonçalves e Jackson do Pandeiro. A banda de música era uma coisa que me encantava bastante no interior. Eu sempre estava atrás dela, admirando, sonhando um dia tocar. Tive a sanfona como primeiro instrumento. Depois, peguei o violão e me apaixonei, sendo meu preferido até hoje.

João Gilberto. Foto: Reprodução

CONTINENTE Por que você optou pela sanfona? É verdade que aprendeu a tocar com um sanfoneiro que se encontrava preso, na época, por ter cometido um crime?
MORAES MOREIRA A sanfona é o instrumento do interior. Um sanfoneiro bom faz a festa. Tinha um músico famoso na minha terra, chamado Fidélis, que me influenciou bastante. Houve um episódio em que ele se aborreceu com um cara que veio de fora, e acabou matando-o. No interior, as pessoas usavam arma abertamente. Hoje, menos. Então, Fidélis foi julgado e ficou preso um tempo. Durante o período em que ele esteve na prisão, eu ia visitá-lo regularmente, aí aproveitava para vê-lo tocar e ele ainda me ensinava um pouco. Tinha 12 anos. A sanfona representou um período curto na minha vida, cerca de três anos. Tocava em festas de batizado e casamento. Mas não era um sanfoneiro maravilhoso. Quebrava o galho.

CONTINENTE Você não pensava inicialmente em ser músico. Quando mudou de ideia?
MORAES MOREIRA Fui para Salvador depois de concluir o científico – o equivalente ao Ensino Médio. Minha intenção era fazer Medicina, foi o que tinha falado para meus pais. Mas a música já estava tomando conta de mim. Aí, consegui uma vaga no Seminário de Música da Bahia. Não tinha violão, então optei pela percussão, só para entrar em contato com o universo musical da Bahia. Nisso, conheci o Tom Zé, que foi uma luz na minha vida. Ele viu que eu tinha algum talento e foi me incentivando. Estudei um pouco de violão com ele. Às vezes, eu até dava aula para os seus alunos, quando ele não podia. Depois vieram os Novos Baianos.

CONTINENTE Como o grupo surgiu?
MORAES MOREIRA A gente foi se formando entre 1966 e 1967, na Bahia. Todos do interior se encontraram em Salvador para formar os Novos Baianos. Galvão veio de Juazeiro, eu vim de Ituaçu e Paulinho Boca de Cantor, de Santa Inês. Baby era do Rio de Janeiro. Ela tinha fugido de casa e foi para a Bahia. Nós a achamos muito interessante e resolvemos botá-la no grupo. Fizemos um show chamado Desembarque dos bichos depois do dilúvio, em Salvador, que foi praticamente a nossa despedida, de 1968 para 1969. Os tropicalistas estavam exilados em Londres e nós não queríamos deixar esse vazio na música brasileira, que era a bandeira da liberdade. Chegamos a São Paulo em 1969, e conhecemos o produtor musical João Araújo – pai do Cazuza e fundador da gravadora Som Livre, falecido em 2013. Ele ouviu as nossas músicas e topou gravar o primeiro disco, É ferro na boneca.


Novos Baianos. Foto: Reprodução

CONTINENTE Qual a importância de João Gilberto para a sua carreira? Que lembranças você tem dele, na fase dos Novos Baianos?
MORAES MOREIRA João Gilberto teve uma importância enorme. O primeiro disco dos Novos Baianos era meio roqueiro. Um dia, João chega e muda tudo, chamando a atenção da gente para as coisas do Brasil, o samba. Mostra música de grandes autores, como Assis Valente, Herivelto Martins e Noel Rosa. A gente sabia desse universo, mas estávamos embevecidos pelo rock. Então, incorporamos essa influência de João sem perder a vitalidade do rock. Assim começou a formação da sonoridade dos Novos Baianos, que levou ao disco Acabou chorare, lançado em 1972. João se tornou o nosso guru. Costumo dizer que ele foi o produtor espiritual do Acabou chorare. Nessa época, João aparecia lá na nossa casa e ficava tocando a noite toda. No outro dia, mandava comprar pão para a gente tomar café. Ele tomava o dele e voltava para casa. Isso aconteceu muitas vezes e foi uma aula para nós. Eu e Pepeu roubamos vários acordes dele.

CONTINENTE A sua saída do grupo foi tranquila?
MORAES MOREIRA Não existe saída tranquila. Se você sai de um lugar, é porque não está bem. Saí sofrendo. Chegamos a ter discordância porque os Novos Baianos exigiam que todo mundo do grupo morasse junto, e eu queria que houvesse uma abertura, que pudesse morar em outro lugar e ser do grupo. Mas isso não foi aceito. Na época, eu era casado e tinha dois filhos. A situação era dificílima. Não tinha como criá-los dentro daquela estrutura precária em que a gente estava vivendo, sem fazer muito show. Empresário que entrava não organizava nossa carreira. Era uma situação artística muito desorganizada. Quando se está só, tudo bem. Mas quando começa a ter criança, tem de ter leite, escola, saúde, educação, aí você começa a pensar mais. Foi muito crítico esse recomeço, porque tudo o que fiz ficou com o grupo e eu saí sem nada, praticamente. Com o tempo, as pessoas foram acreditando no meu trabalho. A Som Livre me deu a chance de fazer um disco e eu fui me reconstruindo aos poucos.

CONTINENTE Os seus quatro primeiros álbuns da fase solo – Moraes Moreira (1975), Cara e coração (1977), Alto-falante (1978) e Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979) – foram agora relançados pela Discobertas. Como você avalia esses discos na sua discografia?
MORAES MOREIRA São discos de consolidação da minha carreira. O primeiro, Moraes Moreira, foi o mais roqueiro de todos. Tinha pitadas de um rock inocente, quase nativo, regado a guitarras, solos, riffs, mesmo com toda nordestinidade. Depois que eu saí dos Novos Baianos, voltei para as raízes interioranas. Foi uma forma de encontrar a minha personalidade, fincando os pés na regionalidade universal. Nesse primeiro disco, tinham composições criadas por mim, ainda para os Novos Baianos. Fizemos uma divisão e eu peguei aquelas com as quais me identificava mais, para poder gravar. Fui acompanhado nesse disco pelo embrião de A cor do som, ainda sem nome. Juntei os rapazes para gravarem comigo. Um produtor ouviu o meu trabalho e gostou da performance da banda e os convidou para fazer um disco. Dadi, músico que também tinha saído dos Novos Baianos, pediu licença ao grupo para usar A cor do som, pois o nome era de lá. Brinco dizendo que quem inventou a banda fui eu. A partir do segundo LP, Cara e coração, os novos parceiros foram chegando e eu já me sentia mais seguro e menos solitário. Nele, já havia mais samba. Meu primeiro grande sucesso foi Pombo-correio, letra minha e música da dupla Dodô e Osmar. Foi quando deixei de ser um ex-Novo Baiano e passei a ser apenas Moraes Moreira. Já Alto-falante foi uma referência às minhas memórias do alto-falante de Ituaçu. “Eu tenho no coração uma voz de cristal de alguém para alguém com amor e com carinho.” Compus com Fausto Nilo, que também é interiorano e viveu essa mesma experiência. Esse volume inaugurou a parceria com Abel Silva, além da retomada na amizade e na parceria com Pepeu Gomes, um pouco afastado depois da minha saída dos Novos Baianos. Em 1979, Lá vem o Brasil descendo a ladeira consolidou de vez a minha carreira. Além da música-título, que se tornou um grande sucesso, tiveram outras, como Chão da praça, Assim pintou Moçambique, Pelas capitais. Foi um trabalho que me acrescentou bastante.

CONTINENTE Você é muito ligado ao samba e ao frevo. Entretanto existe um lado diferente em determinadas composições, como Acordei, gravada por você e por Zizi Possi; Sede, registrada por Nana Caymmi e César Camargo Mariano; e Sonhei que estava um dia em Portugal, com versões suas e de Maria Bethânia. Você acha que o público conhece esse seu lado?
MORAES MOREIRA Hoje em dia, ouço o público cantar tudo comigo no show, desde Meninas do Brasil, que é um samba-canção, até Lá vem o Brasil descendo a ladeira, Bloco do prazer, que é um frevo, e Sintonia, uma canção flertando com o popular. Eu coloco tudo no show. Se não conhecem, é outra história. Dessas canções que você citou, o meu maior desafio foi compor para a Nana. Ela vivia lá em casa, a gente tocava violão junto. Quando ela me pediu uma música, pirei, porque a considerava meio sofisticada. Aí eu comecei a fugir. Lembro que Nana chegava lá em casa e começava a me xingar, pedindo a música. Ela é meio desbocada, né? Até um dia em que ela falou uma frase assim: “Eu, quando canto, eu tenho sede”. Aí eu falei: agora eu tenho a música. Em menos de duas horas, ela estava pronta. Eu me realizei porque tive uma canção gravada por ela, completamente fora do meu universo.


Foto: Divulgação

CONTINENTE Observando sua discografia, percebi que existem, pelo menos, oito composições mencionando Pernambuco, como Tapioca de Olinda (1980), Pernambuco meu (1982), Parafraseando o frevo (1984), Petrolina e Juazeiro (1987) e Spok Frevo Spok (2009). De onde é que surgiu essa sua relação?
MORAES MOREIRA Eu já gostava de Pernambuco há muito tempo, porque ouvia a Rádio Clube de Pernambuco no interior da Bahia. Ouvia as orquestras de frevo e ficava pirado. Quando comecei a carreira solo, me voltei para o Carnaval. Queria fazer como Braguinha e Lamartine Babo: músicas que ficassem por muitos carnavais. Fui então beber na fonte do frevo porque, já no contato com o Osmar, que foi um dos criadores do trio elétrico e é filho de pernambucano, ele me mostrou tudo. Foi aí que tomei contato com Capiba, Nelson Ferreira e Duda, e fui gostando daquilo e arranjando uma forma de fazer do meu jeito. Duda, um dia, me disse: “Vou lhe dar um diploma de frevista”. Isso é um reconhecimento grande para mim. Briguei com a Bahia uma época, nos anos 1980. Critiquei o carnaval baiano, quando começou a ter esse carnaval de corda e de abadá. Eu achava que não podia ser só isso, e começou a ser só isso. Eles me alijaram do carnaval de lá. Fui para Pernambuco, que me recebeu de braços abertos e aí comecei essa relação maravilhosa.

CONTINENTE É verdade que tem gente que pensa que você é o Alceu Valença, como diz a música Pernambuco é Brasil? Como começou essa história com o Alceu?
MORAES MOREIRA Começou há muito tempo. Em 1995, no disco Acústico MTV, quando gravei a música, já estava no auge de vários fatos curiosos entre a gente. Teve uma vez que o Alceu foi chamado numa casa e a pessoa mostrou o meu disco e ele assinou como Moraes Moreira. A mim também, no aeroporto e em outros lugares, algumas vezes, as pessoas já me confundiram, pensando que eu era o Alceu. Aí, isso virou brincadeira. Eu não estou nem aí. Eu adoro o Alceu e está tudo certo.

CONTINENTE Você e o Davi Moraes tocaram pela primeira vez, juntos, no carnaval do Recife. Como foi a experiência?
MORAES MOREIRA Foi ótimo. Depois de já ter passado por Natal e Curitiba e fechando o terceiro dia no Marco Zero, que mais eu posso querer da vida? Acho o carnaval do Recife lindo. Tudo é forte e preservado, os frevos de bloco, os maracatus, as orquestras, está tudo lá. Você não vê abadá no carnaval do Recife, você vê fantasia. Não vê corda, mas o povo livre na rua, pulando.

CONTINENTE O que houve com a sua apresentação na Bahia durante o Carnaval? Houve um imbróglio político entre o estado e a prefeitura, que o impediu de tocar?
MORAES MOREIRA Eles estão politizando a festa. Em vez de unir as secretarias de Turismo do estado e do município para viabilizar as coisas, eles quiseram fazer separado. Para eu fazer o meu carnaval lá, levando várias pessoas, com passagem e hospedagem, precisava das duas. Aí ficou aquela confusão e resolvi cancelar, porque não queria pedir nada a ninguém. Para mim, ou é ou não é. A gente teve um pouco de prejuízo, mas preferi assim que ficar pedindo pelo amor de Deus para conseguir as coisas. Tanto que eles quiseram fazer um desagravo e me chamaram para o aniversário de Salvador, em março passado. Foi lindo. Meu público na Bahia está consolidado. Tem uma pesquisa da prefeitura de lá apontando que o que as pessoas mais reclamaram e pediram em relação ao carnaval foi Moraes Moreira. A única coisa que me interessa é o povo.


Filhos de Gandhi. Foto: Divulgação

CONTINENTE Você falou que o carnaval da Bahia teria de caminhar para um lugar mais bonito, mais essencial? Qual seria essa essência?
MORAES MOREIRA Primeiro, resgatar o Carnaval como uma festa do povo. Considerando isso, a princípio, o resto você salva, entendeu? Agora, aconteceu lá na Bahia o fenômeno dessa privatização do espaço público. Com isso, aumentou muito o número de turistas, os hotéis gostaram muito porque tiveram suas lotações esgotadas. Mas começou a ficar uma burrice, porque os próprios blocos na Bahia começaram a virar só de turista, porque o cara de Salvador mesmo não quer mais aquilo. Ele quer botar a sua fantasia e pular no folião pipoca, sem corda e sem nada. Não quer se padronizar. Então, hoje em dia, o carnaval da Bahia chegou a um impasse. Ninguém tem coragem de mexer. Não vejo mudar nada, muda uma coisinha aqui, outra ali. Muda um pouco o corpo, mas não muda a alma do Carnaval, para buscar aquele seu sentido democrático e de diversidade. Dificilmente, você vê na televisão o Ilê Ayê ou o Filhos de Gandhi passando. Você só vê os mesmos blocos de sempre. É Durval, Ivete, Chiclete. É um carnaval de carta marcada, em termos de transmissão para quem está fora da Bahia. Aviso aos navegantes: não pensem que o carnaval é só aquilo. A Bahia é muito mais. Não é terra de uma coisa só, de música de sacanagem e de beijinho na boca. Tem muita coisa que está sendo eclipsada por essa comercialização que está acontecendo e que começou a ser feita no auge das gravadoras.

CONTINENTE Poderia adiantar um pouco do novo disco que você está gravando com o seu filho Davi? Além das canções Salve Pernambuco e Frevo capoeira homenageando Pernambuco, o que se verá nesse trabalho?
MORAES MOREIRA Será um trabalho de Moraes Moreira e Davi Moraes assinando parceria, tocando e cantando junto. Terá três canções nossas, pelo menos, sendo duas instrumentais. Músicas novas dele e outras minhas. Pode ter a releitura de algum clássico. Vai ser um disco mais voltado para o samba e o choro. Deve sair no segundo semestre. A gente vai ver se faz independente, se lança pelo nosso selo ou por alguma gravadora. Não queremos gravadora grande, não acreditamos mais nisso.

CONTINENTE Como é hoje, para você, que já passou por gravadoras grandes, ter de se produzir?
MORAES MOREIRA Acho legal, mas você tem de se organizar, principalmente para poder financiar o disco, pagar músico e estúdio. Hoje em dia, eu banco minha produção. O artista que não faz isso hoje não sobrevive. Gil fez um CD agora homenageando João Gilberto. Ele gravou no seu estúdio e depois ofereceu à Sony. Se tivesse sido feito direto na gravadora, era capaz de pedirem a ele um sucesso novo. Não quero mais isso para mim. Embora eu tivesse liberdade para gravar, sempre tinha uma opinião dentro da gravadora. No meu último trabalho, eu fiz o que quis. Fui premiado, graças a Deus. Não toca no rádio, porque tudo é jabá e eu não pago isso. Tem a internet para divulgar. A gente sobrevive de show e do direito autoral.

CONTINENTE Os fãs podem esperar um novo encontro dos Novos Baianos?
MORAES MOREIRA Não, pelo amor de Deus. Para que isso? Cada um segue fazendo o que aprendeu e deixando viva a escola. Não precisa mais reunir, sabe, aquele folclore de voltar. A Baby está cantando as músicas, Pepeu e eu, também. Isso é uma nostalgia boba. Já fizemos uma vez. Isso é coisa para empresário ganhar dinheiro. Novos Baianos não é isso. Se um dia voltar, que eu acho quase impossível, não é porque empresário pensou numa jogada de marketing, mas porque tivemos vontade. Enquanto não tiver essa vontade, não vai rolar.

CONTINENTE Como você vê o Moraes de hoje em relação ao de 40 anos atrás?
MORAES MOREIRA Mais experiente, mais tranquilo, mais calejado da vida artística, sabendo onde pisar, o que quer, mas sem perder a vontade de continuar fazendo, apesar da idade. Comigo não tem aposentadoria. Enquanto eu puder, vou cantar. Continuo compondo sempre e tocando todos os dias. Continuo o mesmo viciado de antes em música. Às vezes, na estrada, as pessoas até se assustam um pouco comigo. Com 66 anos de idade e viajando muito, alguns músicos com 40 anos já parecem cansados. Então, não tenho do que me queixar. 

MARCELO ROBALINHO, jornalista, mestre e doutorando em Comunicação.

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